Ao estudar as interações de substâncias químicas industriais no ar, cientistas descobrem que milhares deles podem se acumular em moléculas de gordura e “viajar” na cadeia alimentar
por David Biello para SciAmerican
O inseticida DDT é infame por ser transmitido na cadeia alimentar e, entre outros males, fazer com que a casca dos ovos das águias carecas fique fina como papel. O carcinogênico entra na cadeia alimentar em concentrações baixas mas, devido à capacidade de se esconder em moléculas de gordura, chega a concentrações cada vez mais altas (um processo chamado biomagnificação), passando de algas para larvas e então dos peixes para águias – o que levou à sua proibição nos Estados Unidos em 1972.
No entanto, uma parte importante da “rede de ar” da Terra foi deixada de lado: os animais que respiram, de roedores a seres humanos. Um novo estudo mediu a facilidade com que substâncias químicas saem dos pulmões para o ar em comparação à facilidade com que elas são dissolvidas em gorduras e água. A pesquisa, publicada na Science, revela que milhares delas têm a capacidade de se acumular em animais que respiram ar – e talvez também naqueles que “respiram” água.
Um grande número de substâncias químicas solúveis em água não se dissolve tão bem no ar, se acumulando “especificamente em cadeiras alimentares não-aquáticas: mamíferos, pássaros e seres humanos”, explica o chefe da pesquisa, Frank Gobas, da Simon Fraser University, na Columbia Britânica.
Gobas e sua equipe estudaram cerca de 12 mil substâncias químicas sob revisão do governo canadense para determinar seus efeitos sobre o ambiente e a saúde, e descobriram que um terço delas pode se acumular em animais que respiram ar. Por exemplo, o pesticidade lindano, usado tanto na agricultura como no tratamento de piolhos em humanos, não se acumula em peixes, mas se concentra nos lobos canadenses que se alimentam de caribu – que, por sua vez, come liquens. “Cerca de um terço desses químicos comerciais usados hoje agora pertencem ao grupo dos potencialmente biomagnificadores”, diz Gobas. “No Canadá, são de três a quatro mil químicos, mas nossa lista é pequena comparada aos usados nos Estados Unidos e União Européia”.
A contagem total de químicos poderia chegar a 10 mil no mundo todo, afirma Gobas. Mas ele explica que a maioria, se não todos, se provará benigna porque muitos podem ser quebrados por processos celulares. Infelizmente, esse metabolismo ainda é, em boa parte, um mistério. “Não somos muito bons para prever ou medir a rapidez com que os químicos são quebrados pelos organismos”, ele admite. “Não existem informações sobre esse processo em relação a até 90% das substâncias químicas no mercado, o que é um grande problema”.
Os químicos potencialmente perigosos vão de pesticidas àqueles usados em perfumes e tecidos. Compreender como os processos celulares os decompõem é o próximo passo mais importante. “Daqui a muito anos, esperamos poder relacionar os níveis de transformação metabólica à natureza física e química das substâncias”, diz Gobas, “Com base nessa estrutura, gostaríamos de estimar melhor os níveis metabólicos e assim a capacidade de bioacumulação”. Enquanto isso, ele afirma, pode ser uma boa idéia testar o potencial de bioacumulação das substâncias químicas tanto no ar quanto na água.
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