quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Orientação nutricional melhora hábitos alimentares de pacientes com AIDS

Por Júlio Bernardes, da Agência USP

O uso de medicamentos anti-retrovirais ajudou os portadores do vírus da AIDS a controlarem a evolução da doença,mas trouxe o risco de alterações na gordura corporal, problemas cardiovasculares e diabetes. Para tentar prevenir estes problemas, a nutricionista Luara Bellinghausen Almeida desenvolveu e testou um programa de aconselhamento que conseguiu melhorias nos hábitos alimentares de pacientes com o vírus.

A nutricionista acompanhou durante um ano 53 portadores de HIV entre 19 e 59 anos de idade atendidos na Casa da AIDS, ligada ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP. “Metade desses pacientes receberam aconselhamento nutricional individualizado”, relata. “A medicação pode alterar a distribuição da gordura corporal, que passa a se acumular na região abdominal (associada ao maior risco de síndrome metabólica e doenças cardiovasculares) enquanto há perdas nas regiões periféricas do corpo, como braços e pernas.”

Os pacientes orientados receberam folhetos sobre a importância do uso de fibras (frutas, legumes, verduras e cereais integrais) na alimentação e da redução do consumo de açúcares e gorduras. “Também era feita uma avaliação do consumo alimentar, para verificar a adequação da dieta”, explica a nutricionista. “Em um ano, o consumo médio de fibras passou de 13 para 24 gramas diárias, próximo do nível recomendado (25 gramas), enquanto a ingestão de gorduras reduziu 1,8%, contra aumento de 2,82% do grupo não aconselhado”.

Monitoramento
A cada quatro meses, todo o grupo passava por medições de peso, Índice de Massa Corporal (IMC), cintura, dobra cutânea, colesterol(HDL e LDL), pressão arterial, triglicérides e glicemia (teor de glicose no sangue). “Outro efeito dos retrovirais são o aumento do colesterol e triglicérides, além de alterações no metabolismo da glicose que podem provocar diabetes”, diz Luara. “O estudo acompanhou pacientes que começavam a usar a medicação para avaliar o efeito da orientação nutricional na prevenção das mudanças na gordura corporal e das alterações metabólicas associadas ao uso dos antiretrovirais”.

O estudo não registrou alterações significativas nos parâmetros bioquímicos (colesterol, triglicérides e glicemia) dos pacientes avaliados, inclusive entre o grupo que não recebeu orientação nutricional. “Isso mostra que nenhum dos portadores de HIV estudados chegou a desenvolver um quadro de lipodistrofia (alteração na distribuição de gorduras no organismo)”, destaca Luara. “Provavelmente, o acompanhamento nutricional estimulou os pacientes não orientados a monitorarem a própria alimentação”.

A nutricionista aponta que forneceu orientação específica sobre alimentação em situações especiais, como problemas gastro-intestinais causados pelos medicamentos retrovirais. “Esses distúrbios acontecem principalmente quando se começa a utilizar a medicação e o organismo ainda não está adaptado”, conta. Todo o material utilizado durante o trabalho de acompanhamento e orientação foi reproduzido na dissertação de mestrado de Luara, apresentada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

Luara defende a inclusão de nutricionistas nas instituições que acompanham os portadores de HIV, como forma de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “Antes dos anti-retrovirais, quando as internações eram mais comuns, a preocupação era prevenir a desnutrição e o agravamento das infecções oportunistas”, explica. “A pesquisa procurou definir novos padrões de orientação alimentar, já que a situação dos pacientes mudou rapidamente no Brasil com a distribuição universal de medicamentos que controlam a evolução da AIDS”.

Mais informações: (0XX11) 9211-4390, com Luara Bellinghausen Almeida. Pesquisa orientada pela professora Patrícia Constante Jaime

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