sexta-feira, 25 de abril de 2008

Canadá proíbe mamadeiras de plástico por preocupações com a saúde

Proibição deve vigorar em 60 dias, após um período de discussão com a indústria, mas farmácias e lojas já estão retirando o produto das prateleiras.

Ottawa, Canadá - O governo canadense iniciou na quinta-feira, dia 17 de abril, o processo de proibição de mamadeiras de policarbonato - um plástico duro e moldável - ao declarar oficialmente que um de seus componentes químicos é tóxico, o bisfenol-a.


A decisão, dos serviços de saúde e do meio ambiente do Canadá, é a primeira medida tomada por qualquer governo contra o bisfenol-a, ou ABP, um produto químico contido no material das mamadeiras e garrafas plásticas que imita um hormônio humano e que tem induzido, a longo prazo, mudanças em animais expostos a ele através de testes.


"Não vamos esperar os efeitos a longo prazo do bisfenol-a para tomar medidas de proteção ao nosso povo e nosso ambiente”, disse o ministro do Meio Ambiente, John Baird, em entrevista à imprensa.


O impacto mais imediato da classificação como produto tóxico será a proibição da importação e da venda de mamadeiras para bebês feitas com garrafas de policarbonato transparente e rígido. No entanto, essa medida só terá efeito após um período de 60 dias de discussão.


O ministro da Saúde, Tony Clement, disse aos jornalistas que, após revisar 150 trabalhos de investigação sobre o ABP e realizar seus próprios estudos, seu departamento concluiu que esse produto químico representa um risco elevado para recém-nascidos e crianças com até 18 meses.


O ministro disse ainda que estudos com animais sugerem que "haverá sintomas comportamentais e neurológicos numa fase posterior de suas vidas".


Além disso, o ministro Clement afirmou que lavar as mamadeiras plásticas com água fervente provoca a liberação do produto químico no conteúdo das garrafas. Ele sugeriu que o governo teria examinado a possibilidade de banir também o uso de epoxies feitos com ABP, e pulverizados na maioria dos recipientes de alimentos infantis como revestimento. Mas acrescentou que não existe qualquer alternativa prática no momento.


Ambos os ministros, no entanto, insistiram em que a pesquisa atual mostrou que adultos que utilizam recipientes para comida e bebida feitos com plásticos relacionados com o ABP não estariam correndo riscos. "Não existe risco atual para o canadense médio consumir qualquer coisa contida nesses recipientes", disse Clement.


Apesar disso, o governo canadense vai começar a monitorar a exposição de um grupo de 5.000 pessoas ao ABP até 2009. Se a investigação indicar perigo para adultos, o governo tomará medidas adicionais, disseram os funcionários.


Além das preocupações com relação a crianças e jovens, o governo afirmou que sua análise do ABP constatou que mesmo níveis reduzidos do produto químico podem prejudicar peixes e outras formas de vida aquática ao longo do tempo.


Se a proibição da mamadeira para bebê entrar em vigor apenas em 19 de Junho, algo que só poderá ser modificado diante de novas evidências significativas (em contrário), o efeito prático da medida será pequeno.


Notícias veiculadas no início da semana passada, de que o governo iria declarar o ABP tóxico, provocaram uma corrida da maior parte dos grandes varejistas do Canadá para remover de suas lojas produtos de ABP relacionados à alimentação. A empresa Shoppers Drug Mart, a maior do setor, tomou a medida na sexta-feira, em suas 1.080 lojas pouco antes do anúncio do governo.


A Nalgene, empresa que transformou o policarbonato de uma peça de equipamento de laboratórios em um popular recipiente para bebidas, decidiu deixar de utilizar esse plástico e optar por outros materiais que não contêm ABP.


Em Washington, na sexta-feira, Charles E. Schumer, senador democrata por Nova York, anunciou que pretende apresentar um projeto de lei para a proibição total do uso de plásticos relacionados com o ABP em produtos infantis e também em qualquer recipiente para comida ou bebida para adultos.

Texto de Ian Austen, publicado no New York Times. Tradução da EcoAgência. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.

Foto apenas ilustrativa.

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