Por Ecodebate.
Junho 21, 2008
[EcoDebate] O governo Lula, o Ministro do Agricultura, o Ministro do Meio Ambiente e os sucroalcoleiros, na questão de biocombostíveis, sempre argumentam que nós temos dezenas de milhões de hectares de pastagem para o aumento da produção de biocombustíveis. E que isso não vai afetar o preço do carne nem o preço do leite ou do queijo, porque no mesmo momento o Brasil vai intensificar a produção de carne e leite. O que significa isso? Nada mais e nada menos do que aconteceu de certa forma na Europa, 30 anos atrás.
Boi e vaca não puderam mais comer comida natural em um ambiente natural. Grandes estábulos com ar condicionado foram construídos para engordar os animais, com comida artificial, numa grande quantidade importada do Brasil: a soja! Na realidade, os animais nestas instituições de engorda são torturados e transformados de um consumidor de grama natural numa criatura industrializada, que transformou no seu corpo a soja em carne e leite.
Isso criou dois resultados: No Brasil, a destruição de grande parte do Cerrado por causa da produção da soja, inclusive o avanço dos produtores de soja até a floresta amazônica; e na Europa o aumento das doenças civilizatórias, conectadas com a gordura dos animais como doenças cardíacas e câncer - as principais causas de morte no mundo hoje.
Mas, já antes de 2005, para os cientistas e médicos internacionais foi muito claro. Porque a gordura de um animal, que come soja o outros grãos, faz mal para a saúde. A palavra chave é “ômega-3″. Os ácidos graxos ômega-3 são os ácidos eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA) que ajudam o corpo humano em defesa de doenças civilizatórias. Eles diminuem a pressão alta do sangue, diminuem o crescimento de tumores, diminuem a inflamação dos intestinos e diminuem reações alérgicas.
Mas estes ácidos de ômega-3, que todo mundo sabe ter em grande quantidade nos peixes dos mares frios, existem também na grama das pastagens. Por isso, a carne do boi e o leite da vaca, gerados por animais que comem a comida natural das pastagens, têm também uma grande quantidade de ômega-3. Dois terços da gordura da grama da pastagem são os bons ômega-3.
Mas as carnes, os ovos e os laticínios da produção industrial à base de milho e soja quase não têm nada de ômega-3. Ao contrário, animais que comem esses grãos desenvolvem uma grande quantidade de uma outra gordura ácida com o nome de ômega-6. Isso criou uma relação entre ômega-3 e ômega-6 a-natural que faz mal para a saúde humana.
Então, o projeto atual dos empresários e lideranças do Brasil, como Blairo Maggi, é copiar este erro que os europeus e norte-americanos fizeram 30 anos atrás. O aumento da produção de carne e leite à base de soja, aqui no Brasil, vai resultar em um aumento das doenças civilizatórias na população brasileira. E não vai salvar os biomas ameaçados pelo agrobusiness. Porque a produção intensiva de carne e de leite depende de dois produtos agroindustriais, a soja e o milho, que a cada ano destroem cada vez mais os biomas do sul, do leste e do centro do Brasil.
O meu pensamento é: Deixem as animais nas pastagens! E andem menos de carro. Isso é muito mais saudável para nós como seres humanos e para a ecologia em geral. A substituição de pastagens com cana-de-açúcar e soja, ou como na região das Pampas no Sul do país com eucaliptos, é o problema e não a solução!
Norbert Suchanek, Rio de Janeiro.
Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia, colaborador e articulista do EcoDebate.