segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Risco ignorado

10/12/2007

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP – Responsável por 8 milhões de mortes anuais, o câncer mata mais do que malária, tuberculose e Aids juntas – doenças responsáveis por 6,5 milhões de mortes no mundo anualmente. Em 2030, o índice de mortalidade do câncer poderá chegar a 17 milhões, de acordo com previsões de organizações internacionais, as quais alertam: em breve, 80% dos óbitos ocorrerão nos países em desenvolvimento.

“Não é verdade que o câncer é uma doença de países ricos e desenvolvidos”, criticou Franco Cavalli, presidente da União Internacional (UICC) contra o Câncer, que destacou o desafio em relação ao controle da doença e aos fatores de risco.

Mas, segundo ele, depois do investimento nas campanhas antitabagismo (e de seu relativo sucesso), o próximo passo é combater a obesidade. “Já temos conseguido convencer as pessoas a parar de fumar e a lutar contra as doenças infecciosas, mas lidar com o problema da obesidade ainda é uma tarefa difícil”, disse o pesquisador suíço no 2º Congresso Internacional de Controle do Câncer, realizado no fim de novembro no Rio de Janeiro.

“Convencer alguém a mudar seu hábito alimentar é bem diferente de convencer a tomar uma vacina”, ressaltou o alemão Andreas Ullrich, coordenador da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os dois especialistas concordam que bons hábitos se adquirem na infância. “Trabalhar a questão na fase adulta é difícil. As lições de uma boa dieta deveriam ser dadas na escola, com as crianças aprendendo sobre as vantagens de comer verduras, legumes e frutas e sendo estimuladas a praticar esportes”, afirmou Ullrich, que coordena o Plano de Ação Global contra o Câncer, iniciativa da OMS.

Iniciado em 2005, o plano define sete ações específicas: a primeira delas é colocar o câncer na agenda de saúde mundial. “Diferentemente da Aids, o termo câncer contempla muitas doenças, há muitas neoplasias e fatores. A situação ainda não está sob controle”, avaliou Cavalli.

Outra ação do plano de enfrentamento da doença da OMS é convencer os governos a desenvolver planos e projetos de âmbito nacionais. Segundo Ullrich, o escritório da OMS no Brasil está em negociação com o governo federal em relação à implantação do plano no Brasil.

“Nosso objetivo é criar especialistas internacionais e um banco de dados, assim como desenvolver uma agenda de pesquisas sobre o câncer, formando uma rede mundial”, explicou.

Cavalli ressaltou a importância de instituições como a União Internacional contra o Câncer, organismo que funciona em Genebra e fomenta novos estudos sobre a doença. A instituição financia atualmente 26 projetos de pediatria oncológica no mundo.

Na América Latina estão em curso quatro projetos de Honduras, dois do Peru, um da Bolívia e dois da Venezuela. Propostas para apoio a pesquisas podem ser requeridas pelo site da UICC, em www.uicc.org.

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