segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Mistura saudável

Agência FAPESP – Pessoas que bebem moderadamente e são fisicamente ativas têm menor risco de morte por doenças do coração do que aquelas que não bebem e são inativas. A afirmação é de um estudo publicado na edição de 9 de janeiro do European Heart Journal, da Oxford University Press.

Segundo a revista, a pesquisa é a primeira a avaliar a influência combinada de atividades físicas e da ingestão regular de álcool em causas comuns de morte. De acordo com o trabalho, indivíduos que não bebem e não se exercitam têm risco de 30% a 49% maior de apresentar doenças cardiovasculares do que aqueles que fazem as duas atividades.

O estudo foi feito por cientistas dinamarqueses a partir de dados de quase 12 mil homens e mulheres com mais de 20 anos que participaram de um levantamento feito pela administração municipal de Copenhague. Os primeiros dados foram colhidos entre 1981 e 1983 e, no acompanhamento desde então, foram registrados 1.242 casos de doenças coronárias fatais e 5.901 mortes por outros motivos.

“Os resultados mostram que tanto se manter fisicamente ativo como beber moderadamente são importantes para reduzir o risco tanto de doenças cardiovasculares isquêmicas como de mortes por outras causas. A ingestão moderada de álcool reduziu o risco de mortalidade tanto em homens como em mulheres, mas o mesmo não foi verificado entre aqueles que bebem mais pesadamente”, disse Morten Grønbæk, diretor do Instituto de Saúde Pública da Dinamarca, que coordenou a pesquisa.

“Outra importante conclusão de nossa pesquisa é que a atividade física pode reverter alguns dos efeitos adversos associados com a abstenção ao álcool. Pessoas que não bebem, seja por motivos religiosos, por gravidez ou por caso anterior de alcoolismo, mas fazem atividades físicas moderada ou intensamente, também têm menor risco de adquirir doença cardiovascular do que aquelas que não bebem e se mantêm inativas”, disse Jane Østergaard Pedersen, primeira autora do artigo.

A pesquisa dividiu a atividade física em três categorias: níveis alto ou moderado (mais de duas horas por semana de exercícios como caminhada vigorosa, ciclismo ou esporte que cause exaustão); nível baixo (pelo menos duas horas semanais de caminhada leve, jardinagem ou outra atividade); e fisicamente inativos, cuja principal atividade física se resume a assistir TV ou a eventuais idas ao cinema.

A ingestão de álcool foi classificada de acordo com o total semanal: aqueles que beberam menos de um drinque (ou uma lata de cerveja ou uma taça de vinho) foram classificados como não bebedores; moderados foram os que consumiram de 1 a 14 drinques por semana; quem ingeriu mais de 15 drinques foi classificado como bebedor pesado.

Em cada um dos níveis de atividade física, inclusive no primeiro (ausência), os não bebedores tiveram risco em média 30% maior de doenças cardiovasculares na comparação com os moderados. Entretanto, os não bebedores tiveram uma redução no risco quando fizeram atividade física em nível moderado (31% menor) ou alto (33% menor).

Os que beberam pelo menos um drinque por semana e se mostraram fisicamente ativos foram os que se deram melhor, com 44% a 50% menos risco de adquirir doença cardiovascular quando comparados com os inativos e não bebedores.

Ao analisar as mortes por todas as causas naturais, incluindo doenças coronárias, os pesquisadores verificaram que em todas as categorias de ingestão alcoólica os fisicamente inativos tiveram o maior risco de morte. Em relação aos diferentes níveis de atividade física, os bebedores moderados foram os que apresentaram menor risco.

“Os menores riscos entre todas as causas foram observados na categoria fisicamente ativo e bebedor moderado e os maiores ficaram com os fisicamente inativos e não bebedores ou bebedores pesados”, disse Jane.

O artigo The combined influence of leisure-time physical activity and weekly alcohol intake on fatal ischaemic heart disease and all-cause mortality, de Jane Østergaard Pedersen e outros, pode ser lido por assinantes do European Heart Journal em http://eurheartj.oxfordjournals.org.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Como se livrar dos agrotóxicos em sua mesa

Trocar alimentos “convencionais” pelos orgânicos e escolher os produtos certos, na estação certa, contribui para uma alimentação livre de produtos químicos. Entenda a melhor forma de fazer isso

Beatriz Monteiro para Época

Novos estudos científicos confirmam: os alimentos orgânicos são mais saudáveis que aqueles produzidos com agrotóxicos. Numa pesquisa da Universidade da Califórnia, tomates orgânicos foram comparados com os convencionais ao longo de dez anos, e o resultado foi que os orgânicos continham mais flavonóides, tipo de antioxidante que auxilia na prevenção de doenças cardiovasculares. Na Suíça, a equipe do pesquisador Lukas Rist constatou um maior teor de ácido rumênico (um nutriente benéfico) no leite materno de mulheres que se alimentavam mais de carne e laticínios orgânicos, em comparação com mulheres que faziam uma dieta convencional.

A oferta desses produtos em feiras livres e supermercados deixou de depender exclusivamente de pequenos agricultores e ganhou escala industrial. O Brasil tem a sexta maior área agrícola do mundo destinada à produção orgânica, segundo a Organics Brasil, organização que promove exportações do setor. A maior parte dessa produção – que inclui soja, sucos, açúcar, castanhas e cachaça – é exportada. No varejo nacional, as frutas e hortaliças ainda são os itens mais procurados entre os orgânicos, e não costumam substituir completamente os convencionais. Para o bolso do brasileiro, esses produtos são caros. Uma fruta orgânica pode ter preço duas a três vezes maior que o de sua versão com agrotóxicos.

Um projeto iniciado no Rio Grande do Sul pretende reduzir a quantidade de agrotóxicos aplicada nas lavouras convencionais, oferecendo uma alternativa mais barata a quem não consegue encher a geladeira com orgânicos mas quer uma alimentação mais saudável. Sob a orientação da Embrapa, centro de pesquisa agrícola do governo, os agricultores aderem voluntariamente a um programa de manejo de pragas sem o uso indiscriminado de defensivos agrícolas prejudiciais ao meio ambiente e à saúde dos roceiros. Maçãs da Serra Gaúcha já entraram no sistema e outras frutas brasileiras estão em processo de certificação, segundo a coordenadora Rosa Sanhueza. Os produtos desse sistema de plantio serão identificados pela sigla PIN (de Produção Integrada) e por um selo do Inmetro (abaixo, uma lista de produtos e os riscos específicos que o uso de agrotóxicos em seu cultivo acarreta para o consumidor).

1. TOMATE
O tomateiro adoece facilmente. Daí o uso intensivo de defensivos químicos no cultivo de larga escala e a alta dose de resíduos tóxicos. O orgânico e o tipo cereja são mais resistentes a pragas e levam menos agrotóxicos
2. CENOURA
Bactérias, fungos e vermes contaminam a cenoura debaixo da terra. A maior parte do agrotóxico fica na casca. Descascar a cenoura a livra de 90% dos resíduos – mas também de nutrientes importantes
3. ALFACE
No sistema convencional, a alface é pulverizada com produtos químicos agrícolas várias vezes. A Anvisa achou resíduos químicos indevidos em 28,68% das amostras de alface – daí a vantagem da versão orgânica
4. MORANGO
Outra planta que atrai pragas e doenças, o que leva ao uso abusivo de defensivos agrícolas. Um morangueiro pode receber 45 pulverizações até a colheita. Na análise da Anvisa, 37,68% das amostras tinham resíduos inadequados 5. MAÇÃ
Os pesticidas aplicados à macieira podem atravessar a casca fina e chegar à polpa da fruta. As maçãs do Sistema de Produção Integrada, com a marca PIN, têm 25% menos pesticidas que as convencionais
6. GOIABA
Ainda mais sujeita ao ataque de pragas que as demais frutas. A versão orgânica é rara e pode conter larvas. O sistema de Produção Integrada ainda estuda um projeto-piloto para a fruta
7. UVA
Segundo a Embrapa Uva e Vinho, o sistema de produção de uvas praticado atualmente é dependente do uso de defensores agrícolas, ainda mais em clima tropical. As versões orgânicas e com a marca PIN têm menos resíduos
8. PÊSSEGO
A época ideal de cultivo do pêssego é de novembro a janeiro. Fora desse período, a fruta costuma ter mais agrotóxico. A versão orgânica é escassa em supermercados, mas é encontrada em algumas feiras do ramo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Alert Over The March of The ‘Grey Goo’ in Nanotechnology Frankenfoods


by Sean Poulter

A breed of Frankenfood is being introduced into human diet and cosmetics with potentially disastrous consequences, experts said last night.

Academics, consumer groups and Government officials are warning that the arrival of nanotechnology threatens dangerous changes to the body and the environment.

The particles it uses are so small - 80,000 times thinner than a human hair - that they can pass through membranes protecting the brain or babies in the womb.

Nano health supplements, such as antioxidants, are already on the market while the first of hundreds of new foods are expected to arrive in the next 12 months.

However, the products are being introdeduced without any regulation or independent assessment to ensure they are safe - mirroring the controversy over the launch of GM foods ten years ago.

Some critics have talked of the threat of the creation of a “grey goo” of tiny particles with hidden harmful properties.

Prince Charles has said it would be “surprising” if the technology did not “offer similar upsets” to thalidomide - the morning sickness drug that caused children to be born with deformed limbs.

Professor Vicki Stone, Professor of Toxicology at Napier University in Edinburgh, is concerned about unforeseen side effects.

“We know very little about the ability of nanoparticles to move around the body, to accumulate or to be excreted, or their potential to cause toxic effects in organs,” she said.

However, nanotech advocates have remarkable claims for the technology. For example, foods are in development that are said to stave off the aging process.

On a more trivial level, they suggest it would be possible to create a fizzy drink that changes flavour according to the number of times the can is shaken.

Scroll down for more…

The consumer group Which? is about to launch a nanotech campaign arguing that consumers need to be consulted on the risks and benefits before it is too late.

The food and farming department Defra has published an independent report which admits there are serious gaps in safety data.

It warns: “There could be very significant implications for business and the wider community if potential risks are not identified and managed before any harm to the environment or human health may be done.”0102 01

The report - Characterising the Risks Posed by Engineered Nanoparticles - states there is a shortage of research money.

It says the resulting absence of basic information about the particles means “it will be difficult or impossible to develop any general understanding of nanoparticle toxicology”.

The report adds: “Transfer across biological barriers - e.g. to the brain or foetus - should be studied. Research into how long these tiny particles persist in the body is urgently needed.”

It warns that work assessing human toxicology is being hamstrung by “profound difficulties in accessing relevant funding for these longer term projects”.

Research by Which? found six out of ten people (61 per cent) have never heard of nanotechnology.

Sue Davies of Which? said: “The benefits that nanotechnologies can offer consumers are really exciting.

‘But before the market is flooded with products, it’s crucial the Government addresses the lack of scientific understanding about how some nanoparticles behave.”

The European Food Safety Authority last year held a conference on the future of food.

Dr Donald Bruce, an expert on food and ethics, told delegates that the arrival of nanotech foods has many similarities with GM products.

US corporations attempted to introduce GM before an effective safety regime could be established.

“One of the things to ask is do we need the benefits claimed by the producers?’ he said. ‘Also there is the underlying notion that we are tampering with nature.”

Environment minister Phil Woolas admitted there were gaps in knowledge, but denied the Government was failing to provide enough research cash.

Tiny particles that have generated great hopes and growing concerns

Nanotechnology involves using a substance in particles that are so small that the substance takes on new properties.

The name of the technology comes from the size of the particles - one nanometre in diameter - a millionth of a millimetre. Reduced to this size, materials can suddenly show very different and unexpected properties.

For example, an opaque substance such as copper becomes transparent, or an inert metal such as platinum becomes a catalyst and triggers chemical reactions.

Advocates argue that such particles can be organised to work together to deliver specific effects in a piece of equipment or in the human body.

They can be used to build miniature hard drives that have an immense memory, so allowing further miniaturisation and sophistication of products such as computers and mobile phones.

Washing machines have been developed that release silver nanoparticles that will kill bacteria in dirty washing.

Sun creams have been created so they become transparent rather than chalky white.

In medicine, it is claimed that nanotechnology will allow the creation of drugs that reach and treat a problem quickly.

Manufacturers are working on nanotech foods and supplements that are also designed to deliver specific health benefits.

Similarly, firms are working on developing anti-ageing foods, where nanotech particles associated with renewing the skin from the inside could be included in everyday products such as yoghurt, spreads or breakfast cereals.

The technology promises huge riches for firms which develop winning applications.

One of the first group of nanoparticles being utilised are fullerenes - tiny hollow carbon balls and tubes. They are very heat resistant, strong and conduct electricity.

The football-shaped C60 fullerene is being used in some anti-ageing products. The creams are said to reduce fine lines and firm the skin.

C60 has some antioxidant properties in that it kills the rogue chemicals which damage cells. However, a high dose can itself damage cells.

Some nano particles are known to mimic the harmful effects of asbestos on the lungs. Consequently, they have the potential to trigger lung cancer if inhaled.

© 2007 The Daily Mail

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A importância de comer bem

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Uma nova pesquisa analisou sites que oferecem programas de emagrecimento. O estudo, de caráter exploratório, constatou que modelos oferecidos na internet já incorporam a reeducação alimentar no lugar da tradicional dieta rigorosa.

De acordo com a autora Ligia Amparo da Silva Santos, professora adjunta no Departamento Ciências da Nutrição da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (UFBA), o objetivo do trabalho foi chamar a atenção para uma prática muito utilizada por quem deseja perder peso.

“A ciência não tem explorado os sentidos e significados desses programas na internet. Suponho que ainda seja precoce levantar conclusões, mesmo que provisórias, mas um dos diagnósticos a ser investigado é por que procurar tais programas e não profissionais de saúde”, disse Ligia à Agência FAPESP.

Segundo o estudo, publicado em artigo na revista Physis, Revista de Saúde Coletiva, a mudança de paradigma em relação aos programas de reeducação alimentar – a reeducação no lugar da “dieta rígida, monótona e rigorosa” – precisa ser mais bem avaliada.

O estudo selecionou seis sites conhecidos, a partir de uma amostra de 336 relacionados a programas de emagrecimento disponíveis no Brasil, durante um período de dois meses. Os sites analisados (Cyberdiet, Emagrecendo, Perca Gordura, Sempre em Forma, Good Light e Dieta Diet) foram divididos em duas categorias: de conteúdos abertos e de conteúdos fechados, só para assinantes.

Em ambos os grupos, foram analisadas imagens, receitas, reportagens depoimentos e outros aspectos. De acordo com Ligia, os sites abertos usavam uma estratégia bastante utilizada nas revistas femininas, em que “personalidades funcionam como identificação e projeção, servindo de estímulo ao público”.

“Uma segunda estratégia é a do ‘antes e depois’, que tem o intuito de demonstrar os resultados do programa. É um recurso de colocar ‘gente como a gente’, o que traz maior identificação com o público. Com as tecnologias da informática, muitos sites sobrepõem fotos, alternando as imagens do antes e depois do emagrecimento, em um jogo visual que pode causar importante impacto em usuários potenciais”, destacou.

Esses sites oferecem muitos textos, reportagens e dicas sobre diferentes temas, do tipo propriedades dos alimentos, alimentação e dieta, dicas do que fazer quando sentir fome, orientações sobre atividades físicas e cálculo do índice de massa corporal, que é um dos primeiros elementos visualizados nas páginas.

Já os de conteúdo fechado oferecem também espaços para compras de produtos, livros e visualização do progresso da dieta. Os usuários têm um canal exclusivo de e-mail, além de chat e telefone (com horários preestabelecidos). Especialistas em nutrição, atividade física e psicologia ficam à disposição dos usuários.

“Os depoimentos publicados nos sites atribuem permanentemente uma situação de conforto e apoio por meio desses profissionais. Trata-se de uma relação paradoxal, na qual se sabe que há alguém constantemente presente, mas não se conhece quem está controlando e auxiliando no processo”, disse a pesquisadora.


Gastronomia e ciências da nutrição

De acordo com a pesquisa, os múltiplos discursos na internet relacionados à dieta não se afastam dos discursos médico-nutricionais e a referência à dieta hipocalórica e hipolipídica não parece ser contestada. Os textos são reelaborados, buscando elementos da vida cotidiana dos sujeitos para consubstanciá-los dentro da lógica publicitária.

Foi observada uma mudança de concepção nas tentativas de criar estratégias educacionais. O “fazer dieta” vem cedendo espaço para o “comer de tudo sem passar fome”. A gastronomia entra, segundo Ligia, como “elo importante do resgate do prazer em comer, ao estabelecer uma aliança com as ciências da nutrição”.

“O gosto é um dos aspectos mais subversivos do corpo, o direito ao prazer é uma espécie de reivindicação silenciosa do corpo e sobre isso a nutrição precisa pensar junto com a gastronomia. As ciências da nutrição, no bojo da sua história, secundarizaram o prazer – um importante objeto da gastronomia – em prol da saúde. Isso está sendo paulatinamente revisto”, disse, enfatizando em seguida o caráter ainda preliminar do estudo.

“Comer é muito mais do que a ingestão de nutrientes para garantir a funcionalidade do organismo na preservação e promoção da saúde. Trata-se de uma prática cultural, construída e ao mesmo tempo construtora de identidades, uma forma de sociabilidade e de prazer. O projeto da ciência em transformar o comer em apenas nutrir o corpo não tem funcionado e a resposta vem dos próprios sujeitos”, afirmou a autora.

Para ler o artigo Os programas de emagrecimento na internet: um estudo exploratório, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui.