terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Buraco negro

17/12/2007
Agência FAPESP – Um novo relatório da Sociedade Norte-Americana do Câncer, divulgado nesta segunda-feira (17/12), traz estimativas sombrias. De acordo com o levantamento, os diversos tipos de câncer serão responsáveis pelas mortes de 7,6 milhões de pessoas este ano, ou cerca de 20 mil por dia.

Além disso, 2007 terá mais de 12 milhões de novos casos da doença. Os números são da primeira edição da Global Cancer Facts & Figures, mais recente publicação da entidade. As projeções são baseadas em dados de incidência e mortalidade da base da dados Globocan 2002, compilada pela Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (Iarc).

O relatório estima que, do total de óbitos, 2,9 milhões ocorrerão em países desenvolvidos, contra 4,7 milhões em nações em desenvolvimento. As regiões mais pobres responderão por 6,7 milhões dos novos casos, ou 55,8% do total.

De acordo com o documento, em países economicamente desenvolvidos os três tipos mais comuns de câncer em homens são, pela ordem, de próstata, pulmão e colorretal. Em mulheres, os tipos são de mama, colorretal e de pulmão.

Nas economias em desenvolvimento, os tipos mais comuns em homens são de pulmão, estômago e fígado. Em mulheres, são: mama, colo do útero e estômago. O relatório destaca que nessas regiões dois dos três tipos da doença em homens (estômago e fígado) e em mulheres (colo do útero e estômago) estão relacionadas com infecções.

Em todo o mundo, cerca de 15% de todas as mortes por câncer estão ligadas a infecções, sendo que o percentual é mais de três vezes maior nos países em desenvolvimento (26% contra 8% nos mais ricos).

“O fardo do câncer está aumentando nos países em desenvolvimento, à medida que diminuem as mortes por doenças infecciosas e a mortalidade infantil. Um número crescente de pessoas vive até idades mais avançadas, quando o câncer costuma ocorrer com maior freqüência”, disse Ahmedin Jemal, epidemiologista da Sociedade Norte-Americana do Câncer e um dos autores do trabalho.

“O peso da doença também aumenta à medida que populações nos países em desenvolvimento adotam estilos de vida dos mais ricos, como uso de cigarros, maior consumo de gordura saturada, alimentos com alta densidade calórica e redução nas atividades físicas”, destacou.

A pesquisa destaca que as taxas de sobrevivência para muitos tipos de câncer são inferiores em economias em desenvolvimento principalmente por causa da pouca disponibilidade de serviços de diagnóstico precoce e de tratamento.

O relatório traz uma seção especial sobre a epidemia do tabagismo. Em 2000, 5 milhões de pessoas teriam morrido em todo o mundo em decorrência do hábito de fumar. Do total, cerca de 30% resultaram do câncer, dos quais 850 mil apenas do pulmão.

Os pesquisadores estimam que o tabaco tenha sido responsável por 100 milhões de mortes em todo o mundo no século 20. O cenário tende a piorar de forma sem precedentes, com a estimativa de que no século 21 o total de mortes pela mesma causa poderá chegar a 1 bilhão – a maior parte nos países mais pobres. O relatório alerta para que o problema seja encarado como uma das maiores prioridades das políticas públicas em saúde.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 84% dos estimados 1,3 bilhão de fumantes no planeta vivem em países em desenvolvimento. Apenas na China são 350 milhões, o que é mais do que a população dos Estados Unidos (cerca de 302 milhões).

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

The Health Industry's Secret History of Delaying the Fight Against Cancer

By Christine Wenc, AlterNet. Posted December 6, 2007.

In her new book, Devra Davis exposes scientists and government officials who have worked to downplay or dismiss preventable causes of cancer.

What is the relationship between the mass production of synthetic chemicals, workplace chemical exposure, environmental pollution and rising cancer rates in the 20th and 21st centuries? In her new book, The Secret History of the War on Cancer, Devra Davis, director of the Center for Environmental Oncology at the University of Pittsburgh Cancer Institute, argues not only are there links between these developments, but the industries responsible for producing these chemicals and wastes have long been well aware of these connections and have sought, with much success, to downplay or dismiss them. As a result, industry has altered the very terms of the public and medical discussion of cancer, resulting in an overwhelming emphasis on cure rather than prevention. This approach has been far better for the industrial status quo rather than for the public health; the increase in cancer is not an artifact of improved diagnoses or the aging of the population.

Davis' book is a call for a fundamental shift in how we think about cancer in the early 21st century. The narrative proceeds as a series of almost freestanding essays. Topics range from the Nazi fight against cancer -- Hitler's scientists were among the first to connect smoking and carcinoma of the lung -- to the transformation of WWI mustard gas bombs into chemotherapy; the relationship between exposure to laboratory chemicals and cancer in medical researchers; the still-shocking history of the American tobacco industry; cancer in industrial workers and the ineffectiveness of safety regulations; genetic damage caused by Ritalin that can then lead to cancer; tumors caused by Aspartame; the very mixed track record of the mammogram; and the link between cancer and environmental hormones, asbestos, hair spray and cell phones (yes, they do seem to cause brain tumors in heavy users). In every case, scientific research into health effects is fundamentally intertwined with corporate interests.

Davis tells us that her book took 20 years to write, in part because she was told that she would lose her job at the National Academy of Sciences when she first proposed the project in 1986. In those 20 years, important works have been published on many of her topics, such as Robert Proctor's The Nazi War on Cancer and Allan Brandt's The Cigarette Century. Davis' work is different, however, in that it brings a cancer epidemiologist's eyewitness account into the story. She has composed her book as a memoir as well as a history, and she relates numerous personal conversations with colleagues over the years as well as the story of her parents' and a close friend's deaths from cancer.

Davis' narrative is compelling. The "war on cancer" announced by Richard Nixon in 1971, she writes, was a colossal misdirection. By 1971, senior researchers around the world already had known for decades that "smoking, sunlight, industrial chemicals, hormones, bad nutrition, alcoho and bum luck all affect the chance we will get cancer." Yet from the start, industry blocked the examination of these known causes and instead poured resources into finding a cure. But after 40 years and $69 billion poured into this war, "it is still easier for people to become cancer statistics than to understand them." We now spend $100 billion on cancer treatments in a single year, yet when it comes to prevention, we have been mostly standing in place.

The problem for those who want to change course in how we think about cancer is that industry misdirection is now so well-established that it is has become fact: It is almost impossible to examine the long-term health effects of any industrial substance without relying in part on research conducted by industry itself. Likewise, discussion of environmental hazards in the popular media continues to be infected by skepticism and politicization -- most of which is not warranted by the scientific evidence but has been deliberately crafted and inserted into public discourse by masters of public relations like Edward Bernays, beginning more than 60 years ago. Finding an expert without baggage is a difficult task; many major 20th century cancer researchers have ended up working for industry, including the revered Sir Richard Doll, the British epidemiologist who in the 1950s proved that cigarette smoking causes cancer. The American Cancer Society was stocked with industry heads and paid-off scientists almost from the start.

Finally, because bodily contamination with hundreds of synthetic industrial chemicals is ubiquitous -- everyone from newborn babies in Iowa to grandfathers in Nepal now lives with a cocktail of pesticides, heavy metals, PCBs and plastics in their bodies -- it is basically impossible to find an uncontaminated control group, in man or beast, to study their effects. This means that using current epidemiological techniques, which rely on the comparison of large groups, it is almost no longer possible to determine the health effects of environmental and workplace pollutants.

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Risco ignorado

10/12/2007

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP – Responsável por 8 milhões de mortes anuais, o câncer mata mais do que malária, tuberculose e Aids juntas – doenças responsáveis por 6,5 milhões de mortes no mundo anualmente. Em 2030, o índice de mortalidade do câncer poderá chegar a 17 milhões, de acordo com previsões de organizações internacionais, as quais alertam: em breve, 80% dos óbitos ocorrerão nos países em desenvolvimento.

“Não é verdade que o câncer é uma doença de países ricos e desenvolvidos”, criticou Franco Cavalli, presidente da União Internacional (UICC) contra o Câncer, que destacou o desafio em relação ao controle da doença e aos fatores de risco.

Mas, segundo ele, depois do investimento nas campanhas antitabagismo (e de seu relativo sucesso), o próximo passo é combater a obesidade. “Já temos conseguido convencer as pessoas a parar de fumar e a lutar contra as doenças infecciosas, mas lidar com o problema da obesidade ainda é uma tarefa difícil”, disse o pesquisador suíço no 2º Congresso Internacional de Controle do Câncer, realizado no fim de novembro no Rio de Janeiro.

“Convencer alguém a mudar seu hábito alimentar é bem diferente de convencer a tomar uma vacina”, ressaltou o alemão Andreas Ullrich, coordenador da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os dois especialistas concordam que bons hábitos se adquirem na infância. “Trabalhar a questão na fase adulta é difícil. As lições de uma boa dieta deveriam ser dadas na escola, com as crianças aprendendo sobre as vantagens de comer verduras, legumes e frutas e sendo estimuladas a praticar esportes”, afirmou Ullrich, que coordena o Plano de Ação Global contra o Câncer, iniciativa da OMS.

Iniciado em 2005, o plano define sete ações específicas: a primeira delas é colocar o câncer na agenda de saúde mundial. “Diferentemente da Aids, o termo câncer contempla muitas doenças, há muitas neoplasias e fatores. A situação ainda não está sob controle”, avaliou Cavalli.

Outra ação do plano de enfrentamento da doença da OMS é convencer os governos a desenvolver planos e projetos de âmbito nacionais. Segundo Ullrich, o escritório da OMS no Brasil está em negociação com o governo federal em relação à implantação do plano no Brasil.

“Nosso objetivo é criar especialistas internacionais e um banco de dados, assim como desenvolver uma agenda de pesquisas sobre o câncer, formando uma rede mundial”, explicou.

Cavalli ressaltou a importância de instituições como a União Internacional contra o Câncer, organismo que funciona em Genebra e fomenta novos estudos sobre a doença. A instituição financia atualmente 26 projetos de pediatria oncológica no mundo.

Na América Latina estão em curso quatro projetos de Honduras, dois do Peru, um da Bolívia e dois da Venezuela. Propostas para apoio a pesquisas podem ser requeridas pelo site da UICC, em www.uicc.org.